24 de abril de 2024 | 8h00 às 9h30
Na ocasião, a professora Ana Silvia Volpi Scott, professora do departamento de demografia da Unicamp, e Dario Scott, também especialista em demografia histórica, comentaram a primeira versão de um artigo que Camila Loureiro Dias, Fernanda Bombardi e Eliardo Costa estão escrevendo sobre demografia indígena na Amazônia dos séculos XVII e XVIII.
Trata-se de uma tarefa complexa e desafiadora: quantificar a população indígena amazônica durante o período colonial. Após um artigo publicado em 2020, que apresentou uma tentativa de dimensionar a quantidade de indígenas incorporados à sociedade colonial, a pesquisa avançou para um desafio ainda maior: mensurar fatores que ocasionaram o decréscimo dessa população ao longo dos séculos.
A dificuldade em obter dados precisos e completos sobre a população indígena na época colonial impõe grandes desafios metodológicos. As fontes históricas existentes são fragmentadas e muitas vezes incompletas, exigindo que os pesquisadores recorram a inferências e projeções para estimar as populações. Além disso, a depopulação indígena foi um processo complexo e heterogêneo, influenciado por diversos fatores, como doenças, conflitos e escravização, com variações regionais e temporais significativas. Doenças epidêmicas, como a varíola e o sarampo, foram um fator determinante. Contudo, a escravização, deslocamentos territoriais e a destruição de modos de vida tradicionais contribuíram para essa redução. Nesse sentido, é importante ressaltar que a depopulação indígena não foi um processo isolado, mas sim parte de um conjunto de transformações sociais, econômicas e políticas que marcaram a colonização da América.
A análise da estrutura etária da população indígena, por exemplo, revela que as doenças epidêmicas atingiram de forma mais intensa crianças e adultos jovens, comprometendo a capacidade de reprodução das comunidades. A mobilidade populacional, tanto por meio de fugas quanto de deslocamentos forçados, também contribuiu para a redução numérica dos povos indígenas. Os pesquisadores envolvidos nesse debate ressaltaram a importância de considerar a dinâmica histórica e a complexidade dos processos, buscando novas metodologias e abordagens para aprofundar o conhecimento sobre esse tema fundamental para a compreensão da história do Brasil.
Avaliou-se, por fim, a pertinência de articular os dados sobre a depopulação indígena colonial com as tentativas de estimativas demográficas pré-colombianas, um tema que será aprofundado em futuras pesquisas. Embora as estimativas pré-colombianas sejam imprecisas e controversas, elas podem oferecer uma ordem de grandeza da população indígena antes da chegada dos europeus e permitem comparar os dados históricos e estimar a magnitude do decréscimo populacional. Novas metodologias e fontes de dados devem, contudo, ser explorados, para aprimorar essas estimativas e oferecer uma visão mais precisa da dinâmica populacional indígena ao longo do tempo.